domingo, 1 de janeiro de 2012

Legião Urbana



Na verdade eu pretendia fazer essa postagem em Outubro, quando se completaram quinze anos da morte de Renato Russo, mas como estava com minhas atenções voltadas para “Coração Paterno”, acabei deixando a data passar. Porém irei postar aqui independente de ser tarde ou não.
Até o turbulento ano de 1996 eu não sabia o que era a Legião Urbana. A morte de Renato Russo fez o país estremecer. Eu com meus doze anos também passava por maus bocados, mas me lembro bem de tudo. Por não me interessar muito no trabalho da banda acabei não dando importância. Por um lado todos diziam que o país perdeu um poeta e o quanto Renato foi importante para uma geração. Por outro, alguns o viam de maneira diferente por ter sido mais uma vítima do HIV. Muitos garotos da minha idade demonstravam certo racismo por rotular de viado quem assumisse ser fã de Legião Urbana e de Renato Russo devido a orientação sexual do musico.
Já com meus quinze anos, comecei a aprender a tocar violão. O rapaz que me ensinava coisas básicas não conhecia nada das bandas que eu gostava. Quando eu dizia que queria aprender o riff de “Breed” ou “All Apologies” do Nirvana ele olhava para mim com uma cara de: -Hã?
O que tinha de material para aprender eram as velhas revistinhas de cifra que existiam aos bocados antes da proliferação da internet. E a única banda nacional que eu até aceitava encarar tentar aprender a tocar era a Legião. Só que naquela época ninguém tinha coragem de emprestar seus CD’s, vinis ou até K-7’s da banda. Pareciam ter medo de admitir sua admiração. De duas a uma, ou queriam esconder seu precioso tesouro, ou não tinham o que emprestar. A única música que eu podia aprender a tocar era “Será” porque volta e meia via o clipe dela na MTV.
O primeiro álbum que eu consegui escutar mesmo foi o “As Quatro Estações”, mas isso foi somente uns seis ou sete anos mais tarde. Na época eu gostei do que ouvi, mas queria conhecer mais o trabalho da banda para entender a importância dela para a música. Demorou mais uns três anos para que eu comprasse dois álbuns, que são o primeiro e o “Que país é esse? 1978/1987”. À medida que descobria coisas novas da banda eu ia me interessando mais. E após ver programas especiais (como o do Capital inicial tocando Aborto Elétrico) e matérias sobre Renato Russo, acabei descobrindo o meu álbum favorito da Legião.
O álbum “Dois” possui vários pontos positivos. Um deles é que as músicas são tão boas que quando se começa a escuta-lo, mal se percebe a passagem de tempo. Depois de escutar a abertura com “Daniel na cova dos leões” e se deixar levar pelo otimismo de “Quase sem querer”, o ouvinte se joga nas demais canções e após a agitada “Metrópole” o clima começa a ceder com “Plantas embaixo do aquário”. Quando menos se espera, vem “Andrea Doria” para nos lembrar de que o disco está acabando e a sublime “Índios” vem com tudo nos deixando com um gosto de quero mais em seus últimos acordes. O efeito do álbum é quase hipnótico sem exagero nenhum.
Quando descobri os demais álbuns da Legião, percebi que existem duas fases da banda. A primeira aborda os quatro primeiros álbuns, a segunda é do quinto álbum em diante. Essa divisão de fazes pode ser notada na parte instrumental. Se nos quatro primeiros álbuns a atitude do punk-rock foi quase predominante ao definir um som mais pesado, do quinto álbum em diante melodias mais elaboradas e marcantes foi o destaque. As letras sempre passaram uma mensagem, hora um protesto, hora um desabafo. Só que depois do quinto álbum, elas ficaram mais disfarçadas e sutis, ao contrário das músicas dos primeiros álbuns que esfregavam na face das pessoas alguma provocação. Quem nunca percebeu que o dragão de “Metal contra as nuvens” é na verdade Fernando Collor de Mello? O até então presidente do Brasil que naquele ano de 1992 prejudicou muito a vida dos brasileiros.
Assim como o álbum “V” trouxe uma carga de lirismo gigantesca, o “Descobrimento do Brasil” trouxe toda uma busca por sobriedade. Em “A tempestade” veio o desfecho de uma grande banda, já que o álbum mostrou-se ser uma legítima despedida de Renato. Resumindo, Legião Urbana é uma banda viciante e uma das minhas bandas nacionais favoritas. Mesmo me tornando um fã anos após o falecimento de Renato Russo posso dizer que se ainda estivesse vivo e a Legião ainda estivesse na ativa, o rapaz não falaria de pesticidas ou de tragédias radioativas, mas de doenças incuráveis que não escolhem classe ou cor para infectar as pessoas. Com certeza ele ficaria triste com a situação atual da música brasileira que não valoriza seus artistas verdadeiros e dos fãs que glorificam “projetos de músicos” que cobram taxas para serem visitados em seus camarins. Ele também protestaria a situação do país que faz greves e mais greves. Isso porque o país “É A PORRA DO BRASIL”, que quer melhorar somente porque irá sediar um campeonato maldito ao invés de valorizar profissões realmente importantes.
Depois de escutar todos os sete álbuns da banda continuei a procurar por material que eu não conhecia. Foi assim que acabei encontrando os Bootlegs, mas isso é uma outra história. Vou ficando por aqui porque acabo de perceber: -Ai meu Deus, eu me tornei um verdadeiro Legionário.

Primeira banda de Renato Russo. Essa é a capa do CD com uma gravação bastante amadora, mas que não deixa de ser um bom registro para os fãs da Legião.
Ouça no volume máximo!

Urbana Legio Omnia Vincit
Mais uma sugestão. Especial elaborado pelo Capital Inicial para tornar válido o trabalho de Renato Russo ao lado de Fê Lemos e Flávio Lemos em sua primeira banda, o Aborto Elétrico.


Um comentário:

  1. Gosto muito de Legião, adorei seu post...parabens


    http://oquartodeleitura.blogspot.com/

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